TEA em Meninas Adolescentes

TEA em Meninas Adolescentes: Compreensão, Mascaramento e a Importância do Suporte Especializado

Por muitos anos, a compreensão sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi construída principalmente a partir de estudos e observações realizadas com meninos. Como consequência, grande parte das meninas cresceu sem o reconhecimento adequado de suas necessidades, desenvolvendo estratégias para “se adequar” e convivendo com intenso esforço emocional para lidar com as demandas sociais do dia a dia.

Hoje sabemos que o TEA pode se manifestar de forma mais sutil em meninas, geralmente internalizado e, muitas vezes, camuflado. Na adolescência, esse cenário se intensifica, pois o desejo de pertencimento torna-se ainda mais forte — e o esforço constante para “parecer típica” pode levar à exaustão emocional.


Por que o diagnóstico costuma ser mais tardio em meninas?

Meninas autistas, especialmente as de nível 1 de suporte, tendem a apresentar hiperfocos socialmente aceitos — como animais, literatura, estética, artistas ou temas escolares — o que raramente gera preocupação. Além disso, muitas têm boas habilidades verbais e aprendem a imitar comportamentos sociais para serem aceitas, mascarando dificuldades reais.

Entre sinais frequentemente observados em meninas estão:

  • ansiedade;

  • timidez;

  • insegurança;

  • baixa autoestima;

  • características de personalidade que confundem profissionais.

Como resultado, muitas passam por diversos atendimentos até que o TEA seja finalmente considerado.


Mascaramento: quando “parecer típica” cobra um preço alto

O mascaramento é o esforço de esconder características autistas para evitar julgamentos ou exclusão social. Muitas vezes, as próprias adolescentes não percebem o quão exaustivo isso pode ser. Entre comportamentos comuns estão:

  • treinar expressões faciais diante do espelho;

  • ensaiar conversas;

  • imitar colegas para evitar “erros sociais”;

  • suprimir estereotipias;

  • esconder desconfortos sensoriais;

  • aceitar sobrecargas para não parecer “diferente”.

Com o tempo, esse esforço constante pode gerar exaustão, crises silenciosas, ansiedade, sensação de inadequação, depressão, queda no rendimento escolar e dificuldade em construir identidade própria.

Reconhecer o mascaramento é essencial para oferecer intervenções que realmente acolham essas adolescentes.


Como a Terapia ABA auxilia meninas adolescentes autistas

A descoberta tardia do diagnóstico traz, ao mesmo tempo, alívio e desafios. Muitas adolescentes finalmente compreendem sua trajetória, mas também se perguntam como reconstruir sua história a partir desse novo olhar.

Nesse processo, o acompanhamento especializado é fundamental. A Terapia ABA, quando aplicada de forma ética, humanizada e individualizada, ajuda a:

  • ressignificar experiências;

  • desenvolver autoconhecimento;

  • fortalecer a autoestima;

  • promover autonomia;

  • aprender habilidades que antes eram exigidas sem suporte adequado;

  • desenvolver competências sociais sem incentivar o mascaramento;

  • identificar sinais de sobrecarga e criar estratégias para lidar com eles;

  • melhorar a autorregulação emocional;

  • fortalecer a comunicação funcional;

  • reconhecer e respeitar limites pessoais;

  • favorecer tomada de decisões e resolução de problemas.

A ABA não busca ensinar a adolescente a “parecer típica”. Seu foco é apoiar para que ela seja quem é — com segurança, conhecimento e suporte adequado.


Conclusão

O TEA em meninas adolescentes ainda é um campo em expansão, mas já sabemos que o reconhecimento tardio, o mascaramento e a sobrecarga emocional fazem parte da realidade de muitas delas.

O diagnóstico não limita — ele orienta. Com apoio especializado, intervenções baseadas em evidências e ambientes que acolhem a neurodiversidade, essas meninas podem crescer com mais compreensão de si mesmas, desenvolvimento emocional e maior autonomia.


Ana Bárbara de J. Oliveira – CRP 16/7605
Coordenadora de Turno – Unidade de Vila Velha