Assentimento e Compaixão no Autismo: Ouvir com o Coração
Quando falamos sobre o desenvolvimento e o cuidado de crianças autistas, é comum que o foco se concentre em terapias, técnicas e estratégias. Porém, existe algo ainda mais essencial que dá sentido a todo o processo terapêutico: o respeito pela criança, por suas emoções, seus limites e pela maneira única como ela se conecta com o mundo.
É nesse ponto que entra o assentimento, um conceito que vai além da técnica. Ele representa uma atitude de respeito, escuta e compaixão — a base para qualquer relação verdadeiramente terapêutica.
O que é o assentimento?
Assentir é reconhecer que toda criança tem o direito de participar, à sua maneira, das decisões que envolvem seu cuidado e seu processo terapêutico.
Mesmo quando ainda não há fala, a criança comunica seu “sim” ou seu “não” por meio de olhares, gestos, expressões corporais e comportamentos. Cabe ao adulto estar atento a esses sinais — e respeitá-los.
Na prática, o assentimento se traduz em atitudes simples, mas poderosas:
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Perguntar antes de agir.
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Esperar antes de insistir.
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Observar antes de intervir.
Esses gestos mostram à criança que sua vontade importa e que ela é parte ativa do processo. É uma forma silenciosa, mas profunda, de dizer:
“Eu te vejo. Eu te escuto. Eu te respeito.”
O assentimento na terapia ABA contemporânea
Na Análise do Comportamento Aplicada (ABA) contemporânea, estudiosos como o Dr. Gregory Hanley (2021) destacam a importância de criar contextos onde o aprendiz se sinta feliz, relaxado e engajado — conceito conhecido como Happy, Relaxed, and Engaged (HRE).
Essa abordagem amplia a visão sobre o aprendizado: mais do que adquirir habilidades, é essencial que a criança se sinta segura emocionalmente.
Afinal, ninguém aprende sob pressão, mas sim quando se sente acolhido.
Quando o terapeuta respeita o tempo e o espaço da criança, o vínculo se fortalece. E é esse vínculo que torna o processo terapêutico mais leve, autêntico e eficaz.
Compaixão em ação
O assentimento é, em essência, compaixão colocada em prática.
Respeitar o ritmo e a individualidade de cada criança é uma forma de mostrar empatia, acolhimento e amor. Quando a criança percebe que é respeitada, ela passa a confiar mais, a se engajar com mais disposição e a se desenvolver de forma mais segura.
Praticar o assentimento não é perder o controle da sessão terapêutica — é construir confiança.
É ensinar, pelo exemplo, que toda relação saudável — seja no ambiente clínico, escolar ou familiar — começa pelo respeito mútuo.
Ouvir com o coração
Assentir é ouvir com o coração.
É entender que, antes de qualquer diagnóstico, existe uma criança com sentimentos, vontades e uma forma única de se comunicar.
Ao adotarmos uma postura compassiva e respeitosa, transformamos o ambiente terapêutico em um espaço de segurança, aprendizado e amor.
No Protea Neurodesenvolvimento, acreditamos que o cuidado verdadeiro começa quando a escuta é feita com o coração.
Sara Alves do Nascimento Evangelista
Psicóloga CRP 16 8012
Coordenação de Turno
Protea Vitória


