Meu filho não gosta de se vestir sozinho: como posso ajudar?

Vestir-se é uma das primeiras tarefas de autonomia na infância. Mais do que apenas colocar roupas, esse momento envolve coordenação motora, planejamento, consciência corporal, motivação e muitos outros aspectos fundamentais para o desenvolvimento.

Mas para muitas crianças — especialmente aquelas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) — esse processo pode ser um grande desafio.

Se o seu filho não gosta de se vestir sozinho, saiba que não se trata apenas de “falta de vontade”. Existem diferentes fatores que podem estar envolvidos.


Por que pode ser tão difícil se vestir sozinho?

Algumas habilidades necessárias para essa atividade ainda estão em desenvolvimento na infância. Entre elas, podemos destacar:

  • Coordenação motora fina: manipular botões, zíperes, velcros e fechos.

  • Coordenação motora ampla: levantar os braços, cruzar as pernas, equilibrar-se para vestir calças.

  • Coordenação bilateral: usar as duas mãos de forma coordenada (como segurar o tecido com uma e puxar com a outra).

  • Esquema corporal: ter consciência de onde estão as partes do corpo.

  • Orientação espacial: perceber frente, verso e lado certo da roupa.

  • Percepção tátil: sentir a posição e o ajuste da roupa no corpo.

  • Questões sensoriais: incômodo com tecidos, etiquetas ou costuras.

  • Planejamento motor: organizar a sequência — por onde começar, qual peça vestir primeiro e como ajustá-la.


Como ajudar seu filho a ganhar mais autonomia?

Algumas estratégias simples podem tornar esse momento mais leve e prazeroso para a criança:

  • Escolha roupas com tecidos leves e sem etiquetas.

  • Prefira peças com elástico, velcro ou botões maiores no início.

  • Comece por etapas simples — tirar a roupa, por exemplo, costuma ser mais fácil que vesti-la.

  • Divida a tarefa em pequenas partes, permitindo que a criança finalize o processo.

  • Organize as roupas previamente, deixando-as na ordem correta.

  • Use recursos visuais, como fotos ou desenhos, para mostrar a sequência de vestir.

  • Ofereça escolhas (ex.: entre duas camisetas) para aumentar o engajamento.

  • Treine em momentos tranquilos, fora da correria da rotina.

  • Reforce cada avanço com elogios e incentivo.

  • Seja exemplo: vista-se junto com seu filho para que ele observe e imite.


O papel do terapeuta ocupacional

Em alguns casos, o apoio de um profissional pode ser fundamental. O terapeuta ocupacional avalia as habilidades da criança, identifica barreiras motoras, sensoriais ou de planejamento e cria estratégias personalizadas para estimular a autonomia.

Com o acompanhamento adequado, o momento de se vestir deixa de ser uma fonte de frustração e passa a ser uma oportunidade diária de conquista e independência.


✍️ Ingrid R. C. Ramos
Coordenadora de Terapia Ocupacional
CREFITO 15/17590 – TO