Entendendo as Estereotipias no Autismo
Quando o movimento fala mais que palavras
As estereotipias são comportamentos comuns entre crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas ainda geram muitas dúvidas e preocupações entre famílias e educadores. Entender o que são, por que acontecem e como lidar com elas de forma respeitosa é essencial para promover o bem-estar e o desenvolvimento da criança.
O que são estereotipias?
Estereotipias são comportamentos motores, vocais ou sensoriais repetitivos, como balançar as mãos, girar objetos, repetir sons ou palavras. Embora possam parecer “sem propósito” para quem observa, muitas vezes esses comportamentos cumprem funções importantes para a criança.
Elas podem ajudar a regular emoções, lidar com a ansiedade, enfrentar frustrações ou até mesmo organizar o excesso de estímulos sensoriais do ambiente.
Por que as estereotipias acontecem?
As estereotipias podem ter várias causas e funções. Entre as mais comuns:
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Autorregulação emocional, diante de ansiedade ou frustração;
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Resposta a estímulos sensoriais (barulhos, luzes, texturas etc.);
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Forma de expressão, principalmente em crianças com dificuldades de comunicação;
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Busca por estímulo em momentos de tédio ou desorganização.
Como lidar com as estereotipias?
Antes de qualquer tentativa de intervenção, é importante entender que nem toda estereotipia precisa ser eliminada. Em muitos casos, elas são estratégias que a criança desenvolveu para lidar com o mundo ao seu redor.
Algumas orientações importantes:
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Observe quando, onde e por que as estereotipias acontecem;
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Reduza estímulos que possam estar sobrecarregando a criança;
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Ensine alternativas para que ela possa se acalmar ou se expressar;
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Mantenha uma rotina previsível e ofereça apoio emocional;
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Evite punições! Elas não resolvem o problema e podem gerar mais estresse.
Quando é necessário intervir?
A intervenção profissional pode ser necessária quando:
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A estereotipia coloca a criança em risco (comportamentos autolesivos);
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Há risco para outras pessoas (comportamentos heterolesivos);
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O comportamento interfere diretamente nas atividades escolares, sociais ou na aprendizagem;
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Há prejuízo na qualidade de vida da criança.
Nesses casos, o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar — com psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, entre outros — é fundamental.
O papel da família
A participação da família é essencial no manejo das estereotipias:
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Compreendam que cada criança é única e se expressa de maneiras diferentes;
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Conversem com os profissionais que acompanham a criança para entender melhor o que está por trás dos comportamentos;
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Sejam pacientes e acolhedores, valorizando os progressos, por menores que pareçam;
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Evitem transformar tudo em motivo de alarme. O mais importante é o olhar atento, respeitoso e amoroso.
Como a Terapia ABA pode ajudar?
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) atua avaliando a função do comportamento e propondo alternativas mais apropriadas, sempre com foco individualizado e ético.
Embora muitas estereotipias sejam autoestimulantes (por prazer sensorial), elas também podem ter outras funções, como:
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Fuga ou esquiva de tarefas ou estímulos;
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Busca por atenção;
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Acesso a algo desejado.
Algumas estratégias utilizadas na ABA incluem:
✔️ Reforçamento diferencial
Reforçar comportamentos alternativos ou incompatíveis com a estereotipia.
Exemplo: Elogiar ou premiar a criança quando ela usa as mãos para brincar com um brinquedo, em vez de balançá-las no ar.
✔️ Ensino de habilidades substitutas
Ensinar outros comportamentos que cumpram a mesma função.
Exemplo: Se a estereotipia for auditiva, a criança pode aprender a usar fones com música por alguns minutos.
✔️ Controle de estímulos
Estruturar o ambiente para reduzir o estresse e a hiperestimulação. Rotinas visuais, ambientes mais calmos e previsíveis ajudam muito.
✔️ Ensinar sobre tempo e lugar
Quando as estereotipias não são prejudiciais, é possível trabalhar o controle situacional — ou seja, ajudar a criança a compreender quando e onde é mais adequado realizar determinado comportamento.
Nem toda estereotipia precisa ser controlada
É importante reforçar: não buscamos eliminar estereotipias a qualquer custo. O foco deve ser sempre avaliar se o comportamento compromete a aprendizagem, a segurança ou a socialização da criança.
Respeitar a individualidade da criança, acolher suas formas de expressão e garantir que qualquer intervenção seja baseada em evidência e centrada no seu bem-estar são compromissos éticos e humanos.
Lembre-se:
O objetivo nunca deve ser “normalizar” o comportamento da criança, mas promover sua qualidade de vida, desenvolvimento, segurança e inclusão. E para isso, a aceitação, o respeito e o suporte da família fazem toda a diferença! 💙
Por Francisleine Da Costa Miranda — CRP 16/7553