Se você convive com uma criança, especialmente no Transtorno do Espectro Autista (TEA), provavelmente já se deparou com momentos desafiadores: recusa, oposição, birras ou até agressividade. Esses são chamados de comportamentos interferentes, pois dificultam a participação da criança em atividades cotidianas — seja em casa, na escola ou em terapias.
Eles podem desestabilizar a rotina familiar, deixar os adultos inseguros e, muitas vezes, gerar frustração em todos os envolvidos. Mas a boa notícia é: é possível compreender e intervir de forma eficaz e respeitosa.
No Protea Neurodesenvolvimento, acreditamos que entender a causa do comportamento é o primeiro passo para promover bem-estar e autonomia. Vamos falar sobre isso?
O Que São Comportamentos Interferentes?
São comportamentos que dificultam o aprendizado e a convivência da criança, como gritar, jogar objetos, bater, recusar-se a realizar uma atividade, entre outros.
Com base na Análise do Comportamento, entendemos que todo comportamento tem uma função: pode servir para evitar algo, buscar atenção, aliviar frustrações ou obter acesso a um item ou atividade desejada.
Como Entender o Motivo do Comportamento?
Uma das ferramentas mais eficazes para isso é a Análise Funcional do Comportamento, baseada no modelo ABC:
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A – Antecedente: O que acontece antes do comportamento?
Exemplo: Os pais pedem para a criança fazer a lição de casa. -
B – Comportamento: O que a criança faz?
Exemplo: Grita, joga o lápis no chão e diz que quer continuar jogando videogame. -
C – Consequência: O que acontece depois do comportamento?
Exemplo: Os pais permitem que ela jogue por mais tempo.
Nesse caso, o comportamento pode ter sido reforçado pela consequência. Ou seja, é provável que ele volte a acontecer em situações semelhantes, pois a criança entendeu que agir daquela forma lhe trouxe o que queria.
Estratégias da ABA para Lidar com Comportamentos Interferentes
Abaixo, compartilho algumas estratégias da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) que costumam funcionar muito bem no dia a dia:
1. Ensino por Modelagem
Mostre à criança como começar a tarefa.
Exemplo: “Olha, vou escrever meu nome aqui. Agora é a sua vez!”.
E celebre cada conquista: “Muito bem, você segurou o lápis direitinho!”.
2. Reforço Diferencial de Comportamentos Incompatíveis (DRI)
Reforce comportamentos opostos ao que deseja diminuir.
Exemplo: Se ela costuma sair da cadeira, valorize os momentos em que permanece sentada:
“Uau! Você ficou sentada por 5 minutos! Que orgulho!”.
Você pode usar estrelinhas, cartelas de pontos, adesivos… o que fizer sentido para ela.
3. Organização com Rotinas Visuais
Crianças no espectro se beneficiam muito da previsibilidade.
Use quadros visuais com imagens do que acontecerá no dia e envolva a criança na escolha de atividades:
“Depois do banho, você prefere brincar de massinha ou assistir a um desenho?”.
Isso aumenta o engajamento e reduz a resistência.
Outras Dicas Importantes
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Consistência é chave: Combinados devem ser mantidos por todos os adultos envolvidos (pais, avós, professores, terapeutas).
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Tenha paciência: Mudanças levam tempo. Valorize cada pequeno progresso.
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Trabalho em equipe: Mantenha o diálogo entre casa, escola e profissionais. A intervenção deve ser conjunta.
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Antecipe-se: Se você sabe que a transição entre atividades é difícil, avise antes e utilize pistas visuais e combinados prévios.
Você Não Está Sozinho!
Enfrentar comportamentos desafiadores pode ser desgastante, mas você não precisa lidar com isso sozinho. Nossa equipe está pronta para apoiar, orientar e construir estratégias junto com você. O objetivo é sempre o mesmo: promover autonomia, desenvolvimento e qualidade de vida para seu filho.
Seguimos juntos!
Com carinho,
Larisse dos Santos Lapa
Psicóloga CRP 16/5002
Esp. em Análise do Comportamento Aplicada ao TEA
Supervisora clínica – Protea Neurodesenvolvimento